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quarta-feira, 20 de maio de 2015

Derrotar a supremacia branca!


O próprio meio de controle social usado pelos ricos é o menos entendido. A supremacia branca é mais do que somente um conjunto de ideias e preconceitos. É opressão nacional. Ainda assim, para a maioria dos brancos, o termo conjura imagens dos nazistas ou da Ku Klux Klan, e não do sistema de privilégios brancos que subjaz ao sistema capitalista nos EUA. A maioria dos brancos, inclusive os anarquistas, acreditam essencialmente que os negros são “iguais” aos brancos, e que devemos lutar apenas por questões “comuns”, em vez de lidar com questões “raciais”, se é que veem alguma necessidade de lidar com elas. Alguns não vai dizer isso de forma tão crua, eles vão dizer que ”as questões de classe precedem”, mas isso quer dizer a mesma coisa. Eles acreditam que é possível esperar para lutar contra a supremacia branca depois da revolução quando, na verdade, não vai haver revolução se a supremacia branca não for atacada e derrotada antes.

Não haverá revolução nos EUA enquanto não houver luta para melhorar a situação dos negros e povos oprimidos questão sendo privados dos seus direitos democráticos, e sendo superexplorados como trabalhadores.

Desde quase o começo do movimento socialista norteamericano, a posição economicista simplória de que tudo o que os trabalhadores negros e brancos têm que fazer para chegar à revolução é a “luta (econômica) conjunta” tem sido usada para evitar a luta contra a supremacia branca. Na verdade, a esquerda branca sempre tomou a posição chauvinista de que, já que a classe operária branca é a vanguarda de qualquer maneira, por que se preocupar com um assunto que vai “dividir a classe”? Historicamente, os anarquistas nem mesmo compraram o discurso da “política racial”, como um anarquista se referiu, na primeira vez que esse livreto foi publicado. É uma evasão total da questão.

Mesmo assim, é a classe dos capitalistas que cria a desigualdade como uma forma de dividir para dominar toda a classe trabalhadora. O privilégio branco é uma forma de dominação do capital sobre os trabalhadores brancos, assim como sobre os das nacionalidades oprimidas, não apenas dando incentivos materiais para “comprar” os trabalhadores brancos e usá-los contra os negros e oprimidos. Isso explica a obediência dos trabalhadores brancos ao capitalismo e ao Estado. A classe trabalhadora branca não vê a sua melhor condição de vida como parte do sistema de exploração. Depois de séculos de doutrinação política e social, ela sente a sua posição privilegiada como justa e correta e, pior ainda, “conquistada”. Ela se sente ameaçada pelos ganhos sociais dos trabalhadores não-brancos, que é o motivo dela ser tão veementemente contra os planos de ações afirmativas para beneficiar as minorias no trabalho, e para corrigir anos de discriminação contra eles. Também é por isso que os trabalhadores brancos foram contra a maior parte da legislação de direitos civis.

Assim, são as manifestações cotidianas da supremacia branca que temos que combater com mais vigor. Não podemos ignorar ou ficar indiferentes às manifestações de raça e classe neste sistema, de forma que os trabalhadores oprimidos continuem vitimizados. Por anos, os negros foram os últimos a serem contratados e primeiros a serem demitidos pela indústria capitalista. Além disso, os sistemas de aposentadoria ativamente discriminaram por raça, e são pouco mais que planos de previdência brancos. Os negros foram até mesmo expulsos de indústrias inteiras, como a carvoeira. Mesmo assim, os dirigentes sindicais brancos nunca foram contra ou interviram a favor dos seus irmãos de classe, nem vão fazê-lo se não forem colocados contra o muro pelos trabalhadores brancos.

Como já foi apontado, existem incentivos materiais para este oportunismo do trabalhador branco: melhores empregos, melhor salário, melhores condições de vida em comunidades brancas etc, em suma, o que se tornou conhecido como “estilo de vida de classe média”. Isso é o que o movimento operário e a esquerda sempre lutaram para manter, e não a solidariedade de classe, que precisaria da luta contra a supremacia branca. Esse estilo de vida é baseado na superexploração do setor não-branco da classe trabalhadora doméstica, assim como dos países explorados pelo imperialismo no mundo todo.

Nos EUA, o antagonismo de classe sempre incluiu o ódio racial como um componente essencial, mas isso é estrutural, e não apenas ideológico. Já que todas as instituições,a cultura, e o sistema socioeconômico do capitalismo americano são baseados na supremacia branca, como então seria possível lutar realmente contra o poder do capital sem ser forçado a derrotar a supremacia branca? A economia dual, com os brancos no topo e os negros na base (mesmo com todas as diferenças de classe entre os brancos) resistiu com sucesso a todas as tentativas dos movimentos sociais radicais. Esses reformistas relutantes falaram de tudo, menos desse assunto. Mesmo conseguindo reformas, em muitos coisas principalmente para os trabalhadores brancos, os radicais brancos ainda não conseguiram derrubar o sistema e abrir o caminho para a revolução social.

A luta contra o privilégio branco também exige a rejeição da identificação deturpada dos norteamericanos como um povo “branco”, em vez de galego, alemão, irlandês etc, pela sua origem nacional. A designação “raça branca” é supernacionalidade artificial, criada para inflar a importância social das etnias europeias e transformá-las em instrumentos do sistema de exploração capitalista. Na América do Norte, a pele branca sempre implicou em liberdade e privilégio: liberdade de emprego, de viajar, de obter mobilidade social para fora da sua classe de nascimento, e todo um mundo de privilégios eurocêntricos. Portanto, antes de uma revolução social acontecer, deve haver a abolição da categoria social “raça branca” (com poucas exceções neste ensaio, vou começar a me referir a eles como “norteamericanos”).

Esses “brancos” devem cometer suicídio de classe e traição de raça para que possam realmente ser aceitos como aliados dos trabalhadores negros e oprimidos nacionalmente; toda a ideia de “raça branca” é para criar conformismo e torná-los cúmplices do assassinato em massa e da exploração. Se os “brancos” não quiserem comprometer com o legado histórico do colonialismo, da escravidão e genocídio, então devem se rebelar contra ele. Então, os “brancos” devem denunciar a identidade branca e o seus sistema de privilégios, e devem lutar para se redefinirem e ao seu relacionamento com os outros. Enquanto a sociedade branca (através do Estado, que está agindo em nome dos brancos) continuar a oprimir e dominar todas as instituições da comunidade negra, a tensão racial vai continuar a existir, e os brancos em geral vão continuar a ser vistos como inimigos.

Então, o que os norteamericanos têm que começar a fazer para derrotar o oportunismo racial, os privilégios brancos e outras formas da supremacia branca? Primeiro, eles devem derrubar os muros que os separam dos seus aliados não-brancos. Então, juntos, devem lutar contra a desigualdade no local de trabalho, nas comunidades, e na ordem social. Ainda assim, não estamos nos referindo somente aos direitos democráticos do povo africano quando falamos de”opressão nacional”. Se a questão fosse só isso, talvez com mais reformas fosse possível obter a igualdade racial e social. Mas não, não é disso que estamos falando.

Os negros (africanos nos EUA) são um povo colonizado. OS EUA são uma pátria com uma colônia interna. Para os africanos nos EUA, a nossa situação é de opressão total. Nenhum povo é realmente livre, anão ser que possa determinar o seu próprio destino. A nossa situação colonial, oprimida, de cativeiro, é que deve ser destruída, não somente esmagando o racismo ideológico ou a negação dos direitos civis. Na verdade, a não destruição da colônia interna significa provavelmente a continuação desta opressão sob outra forma. Devemos destruir a dinâmica social da própria existência dos EUA ser feita de uma nação branca opressora e uma nação negra oprimida (na verdade, várias nações cativas).

Isso exige que o movimento de libertação negra liberte uma colônia, e é por isso que não é uma simples questão dos negros se somando aos anarquistas brancos no mesmo tipo de luta contra o Estado. Também é por isso que os anarquistas não podem ter uma posição rígida contra todas as formas de nacionalismo negro (especialmente os grupos revolucionários como os Panteras Negras), mesmo se houver diferenças ideológicas sobre a forma como eles são criados e funcionam. Mas os norteamericanos devem apoiar os objetivos dos movimentos de libertação dos racialmente oprimidos, e devem desafiar abertamente e rejeitar o privilégio branco. Não existe outro caminho, e não existe atalho; a supremacia branca é uma grande barreira contra a mudança social revolucionária nos EUA.

A revolução negra e outros movimentos de libertação nacional nos EUA são partes indispensáveis da revolução social. Os trabalhadores norteamericanos devem se juntar aos africanos, latinos, e outros, para rejeitar a injustiça social, exploração capitalista e opressão nacional. Os trabalhadores norteamericanos certamente têm um papel importante em ajudar essas lutas a triunfarem. Só o apoio material que pode ser reunido pelos trabalhadores brancos para a revolução negra pode decidir a vitória ou derrota da luta, em determinada fase.

Eu estou gastando tempo para explicar tudo isso porque, previsivelmente, alguns anarquistas puristas vão tentar argumentar que ter um movimento branco é uma coisa boa, que os negros e outras nacionalidades oprimidas só têm que embarcar no “Navio Anarquista” (uma Nau dos Loucos?) e que tudo isso é só “baboseira marxista de libertação nacional”. Bem, sabemos que parte da razão de ser de um movimento anarquista antirracista é desafiar a perspectiva chauvinista dentro do nosso próprio movimento. Uma Federação Anarquista Antirracista não existiria somente para combater os nazistas. Temos que desafiar e corrigir posições racistas e doutrinárias sobre raça e classe no nosso movimento. Se não pudermos fazer isso, então não poderemos organizar a classe trabalhadora, negra ou branca, e não serviremos para nada.

Um comentário:

  1. Somos todos africanos, independente das adaptações fenotípicas vindas a posteriori, temos os mesmos gens e a mesma linguagem arquetípica, somos a espécie humana e não admitiremos jamais como sã a proposta da hegemonia caucasiana.

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