Os
anarquistas negros, como eu, reconhecem que é preciso todo um novo
movimento social, democrático, de base e autoorganizado. Será um
movimento independente dos maiores partidos, do Estado e do governo.
Deve ser um movimento que, embora busque expropriar o dinheiro do
governo para projetos que beneficiem o povo, não reconheça qualquer
papel progressivo do governo na vida do povo. O governo não vai nos
libertar, ele é parte do problema, e não parte da solução. Na
verdade, só as próprias massas negras podem lutar pela liberdade
negra, e não uma burocracia governamental (como o Departamento de
Justiça dos EUA), líderes de direitos civis reformistas,como Jesse
Jackson, ou um partido revolucionário de vanguarda, em nome delas.
É
claro que, em certos momentos históricos, um líder de protestos
pode desempenhar um tremendo papel revolucionário como porta-voz dos
sentimentos populares,ou até produzir estratégia e teoria corretas
para um certo período (Malcolm X, Marcus Garvey e Martin Luther
King, Jr. vêm à mente) e um “partido de vanguarda” pode
conquistar influência de massas e aceitação popular por um tempo
(ex. os Panteras Negras nos anos 1960), mas são as próprias massas
negras que vão fazer a revolução e, uma vez postas espontaneamente
em ação, vão saber exatamente o que querem.
Embora
os líderes possam ser motivados por boas ou más intenções, mesmo
eles vão servir como freio para as lutas, especialmente se perderem
o contato com as aspirações das massas negras pela liberdade. Os
líderes só podem servir a um propósito legítimo como conselheiros
ou catalizadores do movimento, e deveriam estar sujeitos à sua
revogação imediata se agissem contrários aos desejos do povo.
Nesse papel de tipo limitado, eles não seriam líderes – e sim
organizadores comunitários.
A
dependência do movimento negro em relação aos líderes e à
liderança (especialmente a burguesia negra) nos levou a um beco sem
saída político. Esperam que aguardemos quietos até que o próximo
líder messiânico se revele, como se ele ou ela fosse “escolhido
por Deus” (como alguns falaram que eram). O que é ainda mais
prejudicial é que muitos negros adotaram uma psicologia servil de
“obedecer e servir aos nossos líderes”, sem pensar no que eles
mesmos são capazes de fazer. Assim, em vez de tentar analisar a
situação atual e continuar a obra do irmão Malcolm X na
comunidade, eles preferem lamentar os fatos brutais, ano após ano,
de como ele nos foi tirado. Alguns, equivocadamente, se referem a
isso como “vácuo de liderança”. O fato é quenão houve muito
movimento no movimento revolucionário negro desde o seu assassinato
e a virtual destruição de grupos como os Panteras Negras. Nos
estagnamos no reformismo de classe média e na incompreensão.
Precisamos de novas ideias e formações revolucionárias para combater nossos inimigos. Precisamos de um novo movimento de protesto de massas. Cabe às massas negras construí-lo, e não aos líderes e partidos. Eles não podem nos salvar. Só nós podemos nos salvar.
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